quinta-feira, julho 11, 2013

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Perdi a conta ao número de vezes que contaste a história de como me foste entregar aos meus pais do lado de lá do oceano; deixaste-me ao engano, entregue à brincadeira, e ficaste a espreitar-me enquanto eu ignorava o teu regresso ao "Potugal".
Ontem, enquanto me despedia de ti imaginei-te por perto, à espreita, triste por nos deixares, mas feliz por ires reencontrar quem te esperava do outro lado há tantos anos.

Em parte, era por ti que me custava regressar a casa das férias em Cagido. Os dias que passavamos contigo eram sempre especiais.  Desdobravas-te para nos dares o melhor, para fazer as nossas comidas preferidas. No último dia perguntavas-me sempre se não queria levar nada lá de casa, como recordação, e eu encontrava sempre qualquer coisa que te pedia para levar. Quando nos visitavas trazias contigo um pedaço dessas férias perfeitas. E era uma alegria ter-te por perto durante uma mão cheia de dias.

A vida tornou-te numa mulher dura, de sorriso dificil, mas o teu coração era tão bom e tão grande. Cabíamos lá todos: os 6 filhos, os 14 netos, os 20 bisnetos...

Salvé Rainha pequenina, Rosa Divina, Cravo de amor...São Gregório se levantou, seu carreirinho andou...as tuas ladaínhas das quais guardo pequenos fragmentos, frases soltas. Puxo pela memória na tentiva de me lembrar das palavras que repetias cerimoniosamente ao deitar, ao acordar...

Vês que ainda me conseguiste ver casar?! E ainda por cima gostaste do Zé!!!
Sabes, ontem o Vicente dizia-me que tinha saudades tuas e eu contei-lhe que foste à procura do Mico. Ainda é cedo para lhe explicar que partiste.

E dou comigo a tentar lembrar-me da última vez que nos vimos. Tenho a certeza que te dei um beijinho, mais...dei-te com certeza mais que um beijinho e devo ter-te abraçado também. Acredito que te devo ter agarrado nas mãos, que segurei entre as minhas, e te devo ter dito que em breve nos voltaríamos a ver. Menti-te...mas foi sem querer. Desta última vez, deste-me o colar de pérolas falsas que eu andava a namorar há uns tempos. Disseste-me que ficasse com ele, que tinhas outros, e eu fiquei feliz e saí de ao pé de ti com ele posto. Sem imaginar...

Obrigada! Muitas vezes obrigada. Por tudo, mas muito especialmente por teres tomado tão bem conta de mim, pelo pão quente (acabadinho de sair do forno) com manteiga, pelos bolos fritos com açucar e canela, pelos banhos no tanque da fonte, pelas idas a pé às feiras...

Tantas coisas, tantas, tantas lembranças...

Vou ter saudades tuas avó. Muitas.


2 comentários:

Pat disse...

:( Da avó do coração fica sempre uma saudade especial! Ainda não sei o que isso é, mas consigo imaginar... Beijinho doce amiga.

Bravo disse...

ficam somente as coisas boas. e dás contigo a sorrir sempre que pensas e falas nela :) é uma saudade enorme, tão grande como o amor... mas o amor conforta e aquece sempre o coração. um beijinho*